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Alta Fidelidade, Video e música


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ANALISE DOS FORUNS DE ALTA FIDELIDADE / MANIFESTO PELA AUDIOFILIA

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Spock



Introdução

Algumas destas considerações já foram por mim afloradas de forma avulsa numa ou outra intervenção, nomeadamente na apresentação do meu sistema. Mas desta feita resolvi compilar e sistematizar tudo aquilo que penso sobre a discussão on line da alta fidelidade entre nós. No fundo o meu objectivo é ambicioso confesso: por um lado tentar demonstrar que em relação à valia da troca de opiniões sobre áudio na net o rei vai nu, mas por outro lado espero fazer nascer/recrudescer, nos poucos que tiverem a paciência de me ler até ao fim, o gosto, a paixão pela alta fidelidade. Em conversas com alguns amigos conhecedores e/ou participantes desta realidade dos fóruns de áudio, ficou já varias vezes expressa a concordância de que aquilo que “aqui” (on line) se passa daria para uma interessante análise, até do ponto de vista sociológico. Não é todavia com essa pretensão que vos deixo a seguir as minhas ideias / opiniões. Trata-se apenas de expor alguns dos aspectos ridículos da conversação on line sobre áudio, numa tentativa de repor alguma seriedade na discussão e recuperar alguma da magia e da paixão por este nosso hobbie. O fenómeno da conversação on line obviamente não acontece só por cá, ou não fosse a internet o meio pelo qual todas as distâncias e barreiras foram vencidas, tornando o mundo definitivamente “ligado”. Mas acredito que o fenómeno português tem especificidades muito próprias, a julgar até pelo facto de ter até agora sido tratado com “pinças” por parte dos profissionais do meio audiófilo, sejam eles lojistas ou imprensa especializada. Isto depois de uma fase longa a simplesmente ignorar “as bocas” emitidas on line, às quais forçosamente teria de ser dada atenção sob pena da descredibilização de tudo e todos no meio. Mas como todos sabemos, as fissuras que as diferentes correntes de opinião provocam não são apenas entre clientes/audiófilos e lojistas/imprensa especializada. As fissuras acontecem entre os próprios audiófilos, tendo gerado, como sabemos, uma proliferação de fóruns sobre este tema.
Claro que podemos pensar que algumas correntes de opinião, na maior parte das quais não me revejo e que considero até prejudiciais à divulgação e partilha de conhecimentos sobre este fantástico hobbie, têm também o seu lado positivo. Por exemplo, a crítica sistemática ao mercado de áudio em geral, high end em particular, pode em última análise resultar num redobrar de esforços para um melhor resultado em termos de qualidade absoluta dos equipamentos, ou da sua relação entre qualidade e preço, ou até levar mesmo a um reposicionamento desta ou aquela marca na sua oferta de mercado. Mas, como tenciono deixar claro nas linhas que se seguem, penso que muitas das opiniões são extremamente nocivas porque, por via da repetição e da generalização, e apesar de notoriamente mal fundamentadas, minam efectivamente todo um mercado, principalmente porque minam o essencial: o interesse e o desejo de tantos em alcançar a excelência de uma reprodução musical com qualidade. E o paradoxo acontece, ou seja, são aqueles que procuram uma diferenciação qualitativa (audiófilos?!) que mais estão a contribuir, pelo descrédito, para a vitória dos meios de reprodução massificados, mp3 e quejandos. Isto porque muitas dessas opiniões encontraram na net o terreno para florescerem quais ervas daninhas. Fecham-se sobre si próprias não deixando espaço ao verdadeiro debate, gerando um efeito de avalanche destruidora que aumenta de tamanho e velocidade porque se alimenta sobretudo na ignorância, no cepticismo, na pequenez de visão e mesquinhez de feitio. Alguns tecem odes de contentamento à net porque ela trouxe a massificação da informação e do conhecimento. E é sobre frases feitas como essa que se permitem florescer todos os equívocos e se semeia a ignorância.

MAS O QUE NOS DIVIDE ENTÃO ?

(já vos digo)

Spock



O QUE NOS DIVIDE ENTÃO ?

Lembrando um pouco o tópico que abri com o rescaldo dos shows de áudio e das opiniões on line sobre os mesmos, diria que à bonomia que então referenciei não será alheio o facto dos foruns andarem mais calmos. O ambiente é melhor. E ainda bem. Mas continua a haver, na minha opinião, muito ruído de fundo. Fazem-me lembrar certos sistemas (muitos) em que o grave está bom, os médios evidenciam um elevado nível de detalhe e resolução e os agudos são informativos e extensos mas que, ao fim de alguns minutos a ouvir musica, apetece baixar o volume ou virar costas (o que não fazemos por educação). As quezílias, os antagonismos, as zangas já não são nem tão frequentes nem tão ácidas. Ainda bem. Mas esta espécie de paz podre leva a que não exista tanto lugar para o contraditório o que acaba por favorecer um certo unanimismo em redor de toda e qualquer opinião, por pouco consistente que ela seja. Claro está que este clima, favorecido ainda pelo grande número de novos foristas, que se percebe serem novos também nestas andanças do áudio, é aproveitado por todos os que têm algumas pretensões a líderes de opinião e aproveitam este terreno fértil para semear as suas inabaláveis e definitivas convicções sobre audiofilia. Da minha parte apenas quero dizer que “todos os dias” coloco tudo em causa e cada vez menos tomo qualquer observação como conclusiva, qualquer conclusão como definitiva. Já tive mais certezas confesso-vos. Mas é obviamente com satisfação que encontro eco para algumas das minhas constatações nas revistas da especialidade e / ou internet. Claro que os “censores” podem sempre dizer que os críticos estão todos “comprados” e escrevem o que lhes é ditado pelos que lhes “pagam”. Claro que facilmente encontram na net opiniões diferentes, as quais vão muitas vezes em sentido oposto do que é escrito pelos ditos “especialistas”. E encontram aí o adubo necessário para fazer florescer as suas opiniões “daninhas”. “Daninhas” porque moldam e toldam muitos dos iniciados que estão agora no dealbar da procura de uma reprodução sonora de excelência. E a parte pedagógica sempre me preocupa. Que alguém crie a si próprio as reservas mentais que o impedem de evoluir é problema dele. Quando as divulga e repete até à exaustão, sem que ninguém o contradiga de forma evidente, passam a estar criadas as condições para a massificação do entorpecimento colectivo. E é um processo muito rápido porque não poucas vezes a ignorância surge vestida capa e batina. Mas onde nasce então o equívoco para tanta convergência à volta de preceitos (preconceitos ?), na minha óptica, errados ? A meu ver nasce no seguinte: parecendo que andamos aqui todos a falar da mesma coisa, na verdade não andamos. Cada um pensa/fala/escreve em função do seu estádio e dos seus horizontes em áudio. E há assim vários factores que podemos intuir:

(cont. claro... Smile

Spock



- Em primeiro lugar ouvimos diferente porque, desde logo, fisiologicamente somos diferentes. A acuidade auditiva pode variar e varia com toda a certeza de pessoa para pessoa. Alguma dessa variação é incontornável (factor idade por ex.) mas, na minha opinião, a acuidade auditiva é diferente em cada um de nós. Basta pensarmos que é possível melhora-la, para não dizer adquiri-la, pelo treino. E treina-se pela atenção que damos ao que ouvimos. Treina-se quando conseguimos isolar uma serie de factores como o preconceito ou a habituação, e conseguimos decompor aquilo que ouvimos e tentamos perceber o que está bem, o que está mal, o que está a faltar. Ora se a acuidade se treina, é natural que quem mais treino tem melhor preparado possa estar para perceber as diferenças, diferenças que um recém chegado a este mundo do áudio terá muito mais dificuldade em captar, a menos que alguém lhe chame a atenção para elas. Um exemplo simples e fácil de perceber: enquanto ao nível dos graves se ouvir um booom indistinto algo vai muito mal no sistema. E no entanto um recém chegado pode vangloriar-se e demonstrar enorme satisfação com a quantidade de grave que o seu sistema debita. E não sabe o que está a perder. Claro que quando o perceber e melhorar a prestação do sistema, este último vai agir de forma dialéctica permitindo por sua vez a evolução da tal acuidade auditiva. Melhores sistemas vão proporcionar novas experiencias auditivas, nivelando por cima o grau de exigência em relação à reprodução electrónica de musica. Isto explica porque muitas vezes ficamos satisfeitos aquando de um up grade para mais tarde nos sentirmos de novo insatisfeitos ou mesmo infelizes. O grau de exigência aumentou porque melhoramos a nossa acuidade auditiva. Calma, calma que quanto ao treino da audição “ao vivo” lá iremos. Para já fiquemos com a atenção que devemos prestar ao que ouvimos reproduzido no nosso e noutros sistemas, como forma primeira de avaliação, primeiro passo para a evolução. É que esta questão do treino e da experiencia auditiva de variados sistemas é muito mais importante do que possamos supor numa análise superficial. Muitos comprazem-se com o som que têm (ainda bem, nada de mal daí adviria não fora o conflito na troca acesa de opiniões) porque nem suspeitam do que ainda falta “extrair” da música que ouvem.

Spock



- Em segundo lugar ouvimos diferentes porque temos gostos diferentes. Mas desde logo a própria questão do gosto não é nada pacífica. Sobre o gosto poderia falar-se durante horas. Nada mais subjectivo. O povo diz aliás que gostos não se discutem. Nada mais errado como Nietzsche se apercebeu quando disse que toda a vida é uma discussão permanente sobre gostos. E que para cada assunto preferia meia dúzia de peritos a uma multidão de ignorantes. O gosto, o bom gosto cultiva-se. Se não fizer sentido falar-se em gosto, então teremos de assumir a inexistência de bom ou mau gosto. Mas esse é um nivelamento próprio dos tempos modernos, do consumismo do fútil e do imediato. Se não fizer sentido falar-se em (bom) gosto é toda uma noção de cultura que deixa de fazer igualmente sentido. Como hoje o sabemos, graças também ao contributo de um cientista português, António Damásio, a separação entre razão e emoção é um conceito ultrapassado. O que antes parecia dividido assume-se agora como intrinsecamente unido, numa dependência e influência mutuas absolutamente contínuas. Se ele conclui pela óbvia influência das emoções nas decisões da razão, eu inversamente concluo pela inevitabilidade da influência do saber na construção do gosto. O saber prende e dirige a nossa atenção para aspectos antes insuspeitos. Quantas e quantas vezes dizemos que não gostamos apenas porque estamos perante o desconhecido que não compreendemos, desde logo porque nunca prestámos a devida atenção, porque nunca iniciámos um processo de aprendizagem? Como com a comida. Lembram-se de quando diziam que não gostavam apenas porque nunca tinham provado? Pois, agora oiço isso da minha filha. Não é por isso preciso pensar em nenhum processo sofisticado de aprendizagem. Basta pensarmos no processo de aprendizagem que vamos trilhando com a idade. Quem é que à medida que foi avançando na idade não foi evoluindo no gosto musical? E falo em evolução e não em mudança, porque, no meu caso, fui apenas abrindo horizontes para outras músicas, outros sons, outras emoções. Aos 18 anos que ninguém me falasse em fado! Depois o gosto também se pode construir com treino. Quantas vezes comprámos um disco que na 1ª vez que o ouvimos não nos disse nada? E por força da repetição, começamos a captar as letras, a assimilar as melodias e descobrimos tanta beleza insuspeita, ao ponto de por vezes passar a ser dos nossos favoritos? E já agora, ninguém fez este caminho da evolução do gosto musical também por acção do desempenho do sistema? Não acredito se me disserem que não. É aliás minha convicção profunda que o jazz desfruta de grande aceitação junto dos audiófilos porque é relativamente fácil conseguir uma boa prestação sonora quando apenas temos um trio ou um quarteto para ouvir. E talvez também por isso, não juro, seja mais fácil encontrar belíssimas gravações neste género musical. Eu comecei a gostar de jazz por acção do sistema.

Spock



- Em terceiro lugar, e no seguimento desta ultima conclusão acerca da influencia do sistema, é inevitável concluir-se que ouvimos diferente porque temos sistemas diferentes. Se pensarmos na diversidade da oferta de mercado e na infinita possibilidade de combinações existente, facilmente concluímos serem de facto os sistemas todos diferentes, o que por si só justificaria, à priori, tantas e tão diferentes opiniões. Mas aqui chegados temos de separar várias coisas. Porque as diferenças de opinião têm raízes mais profundas e que florescem desde logo nos seguintes aspectos:
- no equívoco em relação ao que é alta fidelidade. Quando entramos numa Fnac ou numa Worten e vemos um sistema compacto de cento e tal euros apelidado de “alta fidelidade”, estamos em presença de quê? Já muito se discutiu sobre alta fidelidade, desde a noção da fidelidade à experiencia da musica ao vivo ou ao registo efectuado em estúdio. De qualquer forma não restarão dúvidas a ninguém que este tipo de sistemas não respeitam nem uma coisa nem outra. Daí que as opiniões dos possuidores de sistemas de entrada devam ser respeitadas mas enquadradas na dimensão da sua experiencia. No entanto, numa lógica muito actual da supremacia da quantidade sobre a qualidade, o facto de existirem muitas vozes neste patamar, facilmente faz parecer que há uma razão por detrás de tanta opinião idêntica. Como uma mentira que repetida muitas vezes assume o estatuto de verdade. Mas muito mais gravoso do que possuir um sistema de entrada, é a forma como tantos o “usam”. Equipamentos uns em cima dos outros, colunas encostadas à parede traseira, grandes moveis no espaço entre as colunas, sofás à frente das ditas…vale tudo. As fotos estão na moda. Ainda bem pois pelo menos serve de aviso de alerta para a falta de sustentação das opiniões dos seus possuidores. Nem o bom senso têm de “esconder” o sistema -leia-se, a sua disposição- da mesma maneira que não se coíbem de ser dos mais prolíficos participantes em tudo quanto é tópico. Curiosamente têm opinião sobre tudo. Principalmente sobre o que não experimentaram. Ouviram dizer. Aliás, nos seus sistemas não captam diferenças entre quase nada. Pudera!

Spock



- no condicionamento da opinião pela identificação com uma marca. Já repararam como ninguém admite que se diga mal dos seus equipamentos? Talvez porque assumir que um equipamento é mau ou menos bom é admitir uma certa dose de ingenuidade/imbecilidade por o ter comprado. Mas quem é que tendo passado por diversos equipamentos, não enfiou nenhum barrete? Isso não faz de quem o compra um imbecil. Desde logo porque basta que tenha sido um up grade em relação ao que se tinha antes para que passe naturalmente despercebida alguma falta de qualidade intrínseca. E o grau de exigência também vai subindo pelo que algumas escolhas fazem sentido em função do nível em que se está no momento dessas escolhas. Uma vez li num fórum brasileiro qualquer coisa como: “não me importa que digam mal do meu amplificador. Eu não sou o amplificador!!” Nós por cá nunca diríamos tal coisa. Antes pelo contrário, identificamo-nos até ao limite com os equipamentos que compramos, ao ponto de defendermos aquilo que temos quase até à irracionalidade. Porque admitir as falhas do nosso sistema é admitir que compramos mal e é sobretudo admitir que não temos um “bom som”. Afinal andamos aqui a dizer a toda a gente que temos um som fantástico e como tal não pode haver elos menos bons na cadeia do nosso sistema. Bem, também pode ser uma estratégia de marketing, antecipando uma futura venda… Mas não, não me parece. Reparem que mesmo aqueles que compram o seu primeiro sistema teimam em fazer-nos crer a todos que fizeram a melhor escolha possível do mercado. Não porque estejam satisfeitos, o que é natural pois todos ficamos quando damos o 1º salto qualitativo grande, mas porque, notando-se que não conhecem mais do aquilo que compraram (e um ou outro equipamento que serviu de comparação aquando da aquisição) não deixam de afirmar categoricamente que, naquele patamar, dificilmente existirá melhor no mercado. Daí até dizerem que para terem melhor só gastando milhares e milhares de euros vai um saltinho. É este erro de avaliação, esta limitação óbvia que tolda a maior parte das opiniões e gera tanta discórdia. Além de que compromete a evolução do sistema por incapacidade de lhe reconhecer as fragilidades. Fala a voz da experiencia. Já passei por isso. Para além de já ter tido mais certezas, já tive mais “confiança” no meu som em momentos anteriores em que o desempenho era francamente inferior ao actual. Há ainda outro aspecto que já aflorei noutro tópico sobre o rescaldo do hifi show e que tem a ver com a “porta” por que cada qual entra no mundo do hifi. A meu ver pode gerar uma determinada habituação/ dependência geradoras de uma preferência por um certo tipo de som. Daí que a defesa intransigente desta ou daquela marca, seja por um lado gerada pelo medo de admitir que a escolha possa ter sido errada, mas por outro devida à habituação à sonoridade que lhe é inerente, à assinatura sónica. Pois, pois, os bons equipamentos são os que não deixam assinatura… Vai lá vai. Então em matéria de colunas é “ver” como há tantas e tão grandes diferenças. E este vício de apreciação não é fácil de superar. Ao ponto, por exemplo, de alguns não se aperceberem daquilo que José Vitor Henriques classifica de “claridade artificial” de muitas colunas high end. Esta claridade ofusca toda e qualquer hipótese de verificação das diferenças de outros componentes a montante das colunas. Quase que me apetece dizer que se o “sistema”, entre outras coisas, não revela diferenças entre cabos, então troquem de sistema!! Ok, ok estou a ser mauzinho. Mas os detentores deste tipo de equipamentos pouco transparentes, onde as colunas levam a primazia, deviam parar para reflectir. Deviam reflectir no porquê da performance sonora ser sempre idêntica independentemente dos restantes elementos da cadeia. Alguma coisa tem de estar forçosamente mal. Algum equipamento está, com a sua assinatura sónica, a “tapar” os demais. A optimização de um sistema com estas características revela-se uma tarefa inglória e obsessiva que descamba para duas situações antagónicas: primeiro em mais e mais investimento numa tentativa de obter melhorias sensíveis pela subida de vários patamares de preço, ou então, revelando-se este esforço infrutífero, instala-se o desencanto que normalmente leva ao downgrade.

Spock



- no nivelamento por baixo. Inevitavelmente os relatos de quem julga já ter experimentado tudo e ficou desencantado, obtêm depois um eco enorme naqueles que nunca tendo passado de um sistema de entrada, encontram aí a razão para não irem mais além na optimização do desempenho do seu sistema e reforçarem as suas participações de forma mais contundente e dogmática que nunca. Mas na maioria das vezes o que encontramos são os possuidores de equipamentos de entrada, a simplisticamente medirem por estes a qualidade de toda a oferta de mercado. Estão tão satisfeitos com o desempenho sonoro do seu sistema (ainda bem) que a todos parecem fazer crer que o santo graal sonoro foi por eles encontrado e com isso não deixam espaço para outras propostas, sobretudo quando são mais caras. Ai de quem dê a entender possuir um orçamento folgado para uma qualquer aquisição que não vão faltar vozes a entoar os gritos de alerta, alguns mesmo com o grande desplante de estabelecerem o patamar a partir do qual não vale a pena investir (aí pelos 1.000 € mais coisa menos coisa). Outro exemplo evidente do que acabo de afirmar é o uso de um qualquer computador como fonte de sinal mais acabada e perfeita. Os downloads podem ser o futuro, mas no presente, o que se assiste é um grupo numeroso de audiófilos a aderirem a suportes simplistas que nos tentam vender como sendo high end. Apercebo-me que muitos dos que usam o computador como fonte (não como meio para downloads de alta resolução, mas apenas como transporte ou como memória para arquivo) não têm nem colunas nem amplificação de grande qualidade, logo como haveriam de descortinar diferenças para um leitor de CD´s dedicado de qualidade? Claro que com sistemas de entrada que não transparecem as diferenças não faz sentido investir mais, mas é preciso perceber porquê. E no entanto quando alguém afirma que não há diferenças e que o seu computador estabelece a última fronteira sonora, logo vemos uma multidão aglomerar-se para ouvir e copiar o exemplo do novo guru. Ora, mesmo que possamos admitir que alguém conseguiu um desempenho sónico interessante com equipamentos de gama baixa ou média/baixa, o máximo que esse alguém pode dizer é isso mesmo, ou seja, que conseguiu com um baixo investimento “subir” ao patamar de desempenho de equipamentos de gamas superiores. Não pode, na minha óptica, fazer “descer” o desempenho dos equipamentos de outras gamas, atribuindo-lhes falta de qualidade sem os conhecer a não ser das revistas da especialidade ou, quando muito, de uma audição fugaz e sem condições numa qualquer amostra de equipamentos áudio. O embaraço de quem faz estas afirmações gratuitas e niveladoras por baixo fica bem patente no silêncio confrangedor ao pedido de exemplos… Aí é que a porca torce o rabo. Os mais pródigos a vilipendiar ficam no mais profundo silencio quando lhes são pedidos exemplos. Por isso a sua conversa é infalivelmente genérica e monocórdica porque percebe-se que a sua experiencia é muito pouca. Ainda neste capítulo do nivelamento por baixo, não posso deixar de falar naquele que é talvez o aspecto mais óbvio de todos: a tendência aflitiva para as opiniões estarem nitidamente condicionadas pelo tamanho da bolsa($$$). Que seria atendível e legítima se cada um falasse por si, se cada um estabelecesse os seus horizontes em audio em função da sua capacidade financeira. Mas o que acontece não é isso. O que sempre se viu nos fóruns foi a tentativa de cada qual tentar estabelecer os seus limites aos outros. Inveja, mesquinhez? Talvez, afinal somos portugueses não é? Reparem que não poucas vezes, quando se fala de equipamentos mais caros, há logo quem venha falar de atentados à pobreza, muitas vezes silenciando pelo embaraço quem tem ou ambiciona ter. Isto é obviamente demagogia barata. Assumir que temos este hobbie, que não é barato, e que andamos “aqui” para falar nele deveria ser a primeira linha de pensamento de quem frequenta os espaços disponíveis on line. A segunda deveria ser a assunção de que, mesmo um sistema de entrada pode ser e é considerado com toda a certeza um luxo aos olhos de um pobre. Mas para alguns o atentado à pobreza parece existir a partir do patamar a que deixam de ter acesso. Eu já o escrevi noutro tópico, neste mesmo espaço, que não me faz confusão nenhuma falar/ouvir/pensar nos equipamentos que nunca vou poder ter e que outros têm. Mas percebe-se que muitos simplesmente não suportam esta ideia… Claro que depois vociferam contra o high end, conceito que para eles não passa de um slogan, uma utopia criada pelos publicitários, um chavão ao serviço da venda de equipamentos caros. Não só se contentam com um patamar de qualidade relativa, como se recusam a admitir que exista algo mais que um bom som. E quando, vagamente o vislumbram numa ou outra demonstração mais conseguida num show de áudio – único momento em que contactam com equipamentos de topo - rapidamente enfatizam a artificialidade de um grave que não existe na “realidade”, o excesso de detalhe por força da captação demasiado próxima; o “exagero” da dinâmica exibida, a pressão sonora desmedida, etc etc. Desdenham fácil da influência dos cabos, e são pródigos a culpar a qualidade das gravações, porque ainda não experimentaram a influência absolutamente decisiva que o transporte óptimo do sinal pode ter e tem em matéria de dinâmica (macro e micro). Pois se como dizia um forista de que não me lembro o nick, nunca experimentaram além do Supra 1, 2 ou 3 no máximo! Por isso falei atrás dos estádios e dos horizontes… Sem duvida que os horizontes de muitos são efectivamente apenas os que “a vista alcança”. Não sabem nem acreditam que há mais para além do seu campo “visual”. Ainda não perceberam que a terra é redonda e olhando para o (seu) horizonte vêem algo tão simples como o céu a tocar a terra. E ninguém lhes diga que o céu não é afinal “baixinho” e fácil de alcançar…

Spock



- Em quarto lugar também é verdade que temos sistemas diferentes porque também procuramos sonoridades diferentes. Aqui é um pouco mais complexo que “simples” questão de “gosto”. Por exemplo: eu penso que para alguns a demanda audiófila passa por conseguir ouvir na reprodução sonora electrónica algo que dificilmente se obtém numa reprodução “ao vivo”, como acontece ao nível do grave onde muitas vezes em música amplificada perde na qualidade e em não amplificada na quantidade. Já outros apostam na verosimilhança com a dita reprodução “ao vivo”, a qual depende muito da qualidade e quantidade percebida ao nível das altas frequências. Para esses o grave já não tem tanta importância, antes pelo contrário, estão sempre a prontos a criticarem e a classificarem como defeito o tal grave “a mais” que ouviram neste ou naquele sistema. Depois há aqueles que apostam no realismo da reprodução dos instrumentos e aqueles para quem uma reprodução fiel da voz humana é absolutamente imprescindível num sistema de alta fidelidade. Reparem que estas tendências, digamos assim, podem até ter surgido ocasionalmente ou de forma não consciente. Por exemplo, depois do advento do CD, muitos foram aqueles que lhe reconhecendo (muitas) qualidades, também não conseguiam suportar a “digitalite” e a sonoridade agressiva dos primeiros tempos (primeiros tempos é talvez um eufemismo pois parece-me que durante muito tempo os leitores de CD´s sofreram desse mal). Vai daí, aqueles que porfiaram na exploração das qualidades desta tecnologia, já que outros nunca desistiram do vinil, foram então em busca de soluções de mercado que emulassem o tal som mais macio, mais quente, mais analógico, mais humano. O mercado satisfez de pronto essa exigência e trouxe à luz do dia produções que cortavam cerce nos extremos de frequência como forma de atenuar a tal incomodativa agressividade. Daí até se ficar enredado num som redondo, anémico, sem dinamismo nem força, vulgo “xaropada”, foi um passo muito pequeno. Por isso quando muitos criticam violentamente alguns produtos com estas características, e arrasam com os fabricantes nomeadamente quando estes ostentam o estatuto de high end, convém reflectir se os fabricantes são culpados por falta de qualidade intrínseca ou se não terão apenas feito a vontade a uma tendência clara do mercado. Mais uma vez falo por experiencia própria. Não suporto nem nunca suportei um som agressivo/cansativo. Daí que a dada altura também caminhava a passos largos para a “xaropada”. Mas os que por sua vez nunca suportaram nem suportam o som “xarope” também não têm a razão toda porque, como já tive oportunidade de comprovar em certos sistemas, a abertura e extensão nas altas frequências surge à custa de um recuo evidente da gama média, ficando nomeadamente as vozes humanas claramente prejudicadas na sua reprodução. Por outro lado, a aversão ao grave poderoso e profundo que classificam de artificial, limita igualmente as suas escolhas e/ou preferências pelo que, ainda que perante reproduções interessantes, não são ainda satisfatórias em toda a linha. E parecendo que não, esta incompatibilidade é uma incompatibilidade real em muitos sistemas. Não admira pois que gere incompatibilidade de opiniões. Que depois surge na forma dos que preferem as válvulas e dos que optam pelos transístores. Dos que cederam à tentação digital (CD) e dos que não abdicam do som analógico (vinil). Dos que se agarram aos produtos do passado (vintage) e dos que procuram e esperam pela última conquista tecnológica como passaporte para o nirvana audiófilo. Dos que advogam os cabos de baixa capacitância e dos que defendem a baixa resistência. Dos que se esmeram nos cuidados com a alimentação eléctrica e dos que desdenham da real influência da mesma. Idem em relação aos cuidados com a influência das (micro) vibrações, onde uns ganham cabelos brancos a tentarem erradicá-las enquanto outros se riem. Mas não satisfeitos, levamos ao extremo as diferenças de opinião, em matérias como: integrados contra conjuntos pré/power ou transporte/dac; pré amplificadores activos contra passivos; E claro, qual cereja em cima do bolo, há os que falam dos artefactos voodoos e os que vivem para os combater… Claro que a perfeição não existe, apenas aproximações. Mas e aí é que está, o que nos divide passa pelos diferentes patamares em que cada qual está e/ ou procura atingir. Por isso alguns, tendo alcançado um bom desempenho sonoro com o seu sistema, teimam em não perceber que o bom é inimigo do óptimo. Se justifica o investimento? Isso cabe apenas a cada um decidir em função do que a sua bolsa lhe permite.

Spock



- em quinto lugar temos opiniões diferentes porque também andamos por aqui por razões diferentes. 5% talvez seja uma percentagem representativa dos que andam “aqui” para aprender e poderem fazer evoluir o seu sistema. Outros 5% anda por “aqui” para ensinar. São aqueles que já sabem tudo e estão sempre prontos para responder a todas e às mais variadas questões sobre áudio em geral ou produtos em particular. 10 % (mais ?) anda por “aqui” apenas para vender equipamentos e os restantes 80% ? anda por aqui para tagarelar, embora nem sempre de forma ingénua ou desinteressada. Existe de tudo. Desde a necessidade pura de tagarelar que se percebe das inúmeras participações impróprias, despropositadas ou sem um mínimo de valor acrescentado para o que é discutido, passando por um certo voyeurismo inócuo (*) expresso na avidez por fotografias dos sistemas dos demais foristas, até à sentida ambição de promoção pessoal patente na aspiração obvia ao estatuto de crítico e/ou líder de opinião, até ao exibicionismo puro de quem se inscreve apenas para expor o seu sistema ou uma qualquer pretensa realização DIY(**). Para esses aliás um só “espaço” não parece de forma alguma chegar, participando activamente em (quase) todos os fóruns. Abrem tópicos iguais em fóruns diferentes e respondem as mesmas coisas em todos. Chega mesmo a haver casos de quem, estando á frente de um espaço não se coíba de participar mais ou menos activamente noutros. Claro que podem ver também em mim algumas das características atrás descritas. Até pelo facto de me ter dado ao trabalho de fazer esta análise. Mas alguém tinha de a fazer! E só podia ser feita por alguém do meio, prestando-se por isso a rever-se nas próprias críticas ou a ser alvo de outras. No entanto, com toda a sinceridade vos digo: já foi tempo! Neste momento participar nos fóruns já não tem para mim nenhum interesse acrescido e, por isso mesmo e com pelo menos um pé de fora, apenas me dá gozo fazer esta análise e colocar em evidência aspectos por vezes absolutamente ridículos e caricatos, mas que estão afinal de contas no cerne de tanta discussão, tanta zanga, tanto virar de costas. Confesso o meu cansaço perante tantos tópicos inúteis que já nem abro (basta o título por vezes), ou que deixo de acompanhar. Confesso o meu cansaço em relação a tanta opinião fechada, geradora de espaços com algumas dezenas de membros (num país tão pequeno como o nosso e ainda assim com grupos de meia centena de pessoas a conversarem on line em espaço próprio), unidos por uma opinião comum tão forte e tão fechada que os levou ao isolamento. Porque cada um está convencido da sua verdade e não está disposto a abdicar dela. Mais uma vez por mim falo. Também não estou disposto a abdicar da minha verdade. Por exemplo, não me venham negar a influência dos cabos no desempenho de um sistema. Pese embora já tenha ouvido sistemas onde as influências são mínimas, outros há, como o meu, onde as diferenças são da noite para o dia.


(*) Inócuo mas imbecil. Veja-se por exemplo o caso da apresentação que faço do meu sistema neste espaço. Mesmo admitindo que são as mesmas pessoas que entram várias vezes no tópico para o irem lendo aos poucos, a verdade é que já leva nesta data quase 600 visualizações. Agora comparece-se com o nº de visualizações dos tópicos que abri sobre vibrações por exemplo. Não interessa se o que lá digo é verdade ou não. As pessoas nem sequer lá vão constatar. Apenas lhes interessa leitura com bonecos (leia-se fotos).
(**) esta parte é para mim sempre um pouco difícil de explicar porque pode parecer que tenho algo contra o DIY o que não é verdade. Como já disse noutra ocasião, reconheço alias muito mérito ao trabalho continuado de investigação e experimentação em progresso feito por quem resolve embrenhar-se a fundo nas questões da electrónica, já não vendo piada nenhuma ao proliferar de soluções fáceis de todo o tipo que levianamente são todos os dias apresentadas como superiores às ofertas de mercado mas não se dignando estabelecer sequer qualquer tipo de comparação ou sujeitar-se a outro escrutínio que não o do próprio autor. (A esse propósito louvo uma vez mais a coragem do meu amigo Jorge Tavares, uma vez que este nosso conhecimento surge precisamente do desafio que lancei de poder ouvir os seus cabos, o que foi por ele prontamente aceite). Mas também é verdade que, a par de alguma idolatria sem sentido, começaram já a aparecer algumas vozes críticas da falta de sustentação de algumas avulsas realizações DIY. Mas é importante aprofundar esta questão do DIY já que, na minha opinião é nitidamente um factor de instabilidade e divisão entre audiófilos. Talvez por existirem alguns diyers cuja ânsia de afirmação é tão forte que a todo o momento fazem terra queimada de tudo quanto é mercado oficial de áudio. Apesar desses, urge encontrar o lugar devido para todos os que porfiam na investigação e descoberta por conta própria. Como? Basta ler a Hifi News de Fevereiro para perceber como. A própria revista já promove entrevistas com Diyers e coloca em evidência os seus trabalhos. Ou seja, os diyers não podem continuar a ser ignorados. Mas obviamente não podem ser todos, pois a maior parte não passa de aprendiz de feiticeiro. Isso mesmo é reconhecido pelo diyer entrevistado nesse numero da Hifi News, membro de um grupo londrino de diyers, o qual é peremptório a afirmar serem apenas cerca de meia dúzia os diyers que sabem a fundo de áudio/electrónica. Os restantes são meros aprendizes e seguidores dessa meia dúzia de conhecedores. Nessa reportagem fala-se ainda de como algumas marcas chinesas estão a conceber os seus produtos e a colocar os esquemas dos circuitos na net e a pedir sugestões de melhoramentos. Aí está uma ideia interessantíssima.
E afinal de contas, se andamos por aqui todos orgulhosos dos nossos sistemas, haverá maior orgulho do que ser o próprio construtor do nosso sistema (ou parte dele)? Ora, quando os resultados o justificam, é um trabalho que deve e tem de ser realçado.



Mas é um pouco por tudo isto que não nos entendemos. Mas também por razões genéticas, afinal somos portugueses, carago! Se acham que não, dêem uma vista de olhos no Mundo Hifi dos nossos vizinhos espanhóis e vejam a diferença. Claro que também já ouve discussões (captei-lhes o eco num ou outro tópico) mas vejam a propriedade e conhecimento com que quem intervém normalmente o faz. Achei particularmente engraçado um tópico onde se pergunta se alguém considera que CD é melhor que vinil. Aqui (nos fóruns portugueses) daria “sangue” com aquelas intervenções venenosas de quem tem todas as certezas do mundo retiradas do seu sistema de entrada e escarnece irritantemente dos que pensam o contrário. Ali, por regra, discute-se seriamente, com muito humor à mistura e com capacidade de encaixe de uma ou outra crítica.
Mas por cá não tenho ilusões: a coisa não mudará muito de figura. Provavelmente porque + de 80% das pessoas têm sistemas de entrada mas opiniões high end. A falta de conhecimento concreto do que se fala é gritantemente confrangedora. Claro que o teclado dá acesso a toda uma serie de opiniões, as quais, cirurgicamente seleccionadas, cruzadas e misturadas, dão lugar a uma nova opinião avulsa, típica de fórum. Que bom seria se apenas intervissem nos tópicos os que realmente têm alguma coisa para dizer. O maior exemplo de todos é aquele tópico em que alguém pede conselhos sobre um ou outro equipamento que está a pensar adquirir. As respostas são na maioria das vezes hilariantes. Se não conhecem, porque respondem? Se não conhecem porque respondem “ao lado” sugerindo algo diferente?
Claro que a ser assim a maior parte dos foristas teria de resumir-se a um silêncio muito mais frequente e prolongado o que se afigura como absolutamente impensável. De qualquer forma fiz este exercício pensando que talvez a reflexão sobre o que nos divide sirva para nos aproximar. Sei no entanto que não é fácil. Porque até certo ponto podemos dizer que cada qual tem uma dose de razão em função da sua experiencia. E são tão diferentes as experiências. Mas pelo menos já fiz a minha parte: tentei!


Saudações audiófilas
cheers


(voltarei brevemente com o Manifesto pela audiofilia)

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